Sobre se posicionar: para descarregar minha má-consciência suscitada pelos outros contra esses outros



É comum se exigir de um estudante de filosofia que “se posicione”, mas aquele que o pede tem uma intenção clara, que é um apelo a seu próprio “bom senso” como se fosse “o melhor para todos”, mas não engana, são seus próprios interesses que falam e esse posicionamento esperado almeja que o tal “filósofo” se dirija as massas usando de sua suposta “inteligência superior” para com certa retórica angariar seguidores, arrebanhar decisões, não para dizer o que pensa, mas dizer o que querem ouvir, reproduzir opiniões, aquele que lhe exige um posicionamento quer antes de tudo destilar uma má-consciência para poder cobrar um engajamento.

Eis meu posicionamento: o desprezo! Esses joguetes políticos, essa hipostasia de marionetes, essa vulgata das identificações, essa reatividade do “menos ruim”, essa redução da política ao voto... espetáculo grosseiro. Sou daqueles que se recusam a ser útil e prefere causar vergonha e embaraço aos que se engodam com essas paixões pelo poder! Paixões tristes! Não irei chafurdar nessa lama! “Prefiro não fazer”! Que morram da verdade e arranquem os próprios cabelos esses que se propõem a manipular o senso-comum, são seres sem escrúpulos!

O “povo”, essa palavrinha mágica na boca de almas sebosas, não existe a não ser como massa de manobra! Descreiam dos fatos, desliguem as TVs, Pcs e Smartphones, usem suas próprias cabeças, desconfiem de todo aquele que diz qual o melhor caminho, de boa vontade o inferno está cheio! Desconfiem até desse meu mau-humor... longe de mim bancar a “alma benfazeja”, longe de mim vender um discurso de cidadania ou pregar a fé nesses deuses monetários e longe de mim bajular lideranças políticas

Todo esse teatro baixo, esse jogo binário de esquerda e direita não passa de uma torpe ficção política para entreter os corpos enquanto se administra a guerra. Corremos o risco de que não haja mais política, apenas polícia, e não será assim já? Visto que a população “civil” é quase toda constituída de milícias identitárias? Há ainda alguma possibilidade de resistência à essa arregimentação policial da política? Uma resistência que nos possibilite não cair no completo niilismo? Que não seja o cinismo? O anarquismo? O “ismo”? Ou a indiferença?

Talvez as micro-políticas da criação e as práticas de cuidado de si, etc. O cultivo de si como forma de resistir aos mecanismos de destruição do corpo pelos hábitos alimentícios e farmacêuticos consolidados (fast-foods, enlatados, etc.), diminuição dos excessos de velocidade, dessa dromo-entropia cibernética, ser artesão de um outro corpo, as micro-políticas como possibilidade de um movimento nomádico nos interstícios dessas arregimentações policiais, capaz de desfazer certas articulações rígidas e propor outras mais livres, menos assujeitadas, possibilitar vivencias mais autenticas e auto-poiéticas. Seria uma guerra inerente a própria existência, a filosofia como espécie de esporte ético-estético no qual o corpo confronta-se consigo próprio, por sua própria saúde vital: a alegria, o júbilo... mas não confundir com essas “felicidades” prometidas pelo “bom-senso” dessa outra guerra política que nada tem com a existência senão com seu auto-extermínio!

Lembrando do pensamento de caráter póstumo enunciado por Nietzsche: “Só a partir de mim é que haverá grande política na terra”, penso que seja mesmo a grande questão política de nossa época, bem como das anteriores, pensar como fazer articulações entre uma grande saúde e uma grande política! No mais tudo é reatividade. Essa questão deve ser colocada pelos artistas, pouco simpáticos aos ideais de progresso e utilidade! Esses que tem o gosto pela ficção e suas incorporações e desincorporações. Que os artistas invadam os jogos da ciência, da arte e da filosofia, seria uma maneira de rejuvenescer nossos instintos decadentistas, cansados, sedentários, obesos, corcundas!


O pensamento dificilmente ocorre em meio a debates políticos acalorados, movidos por paixões identitárias, e se ocorresse não teria condições de se desenvolver e de se sustentar, sempre exige uma outra política, que está para muito além desses embates de egos, desse agonismo de pavão! Tolo você achar que eu falo a mesma língua, achar que se posicionar é falar para as massas: mesmo Sócrates, filósofo da praça, não fazia esse jogo da melhor opinião... não vou tomar partido, não vou votar no seu candidato, nem em ninguém, e vou defender isso de toda maneira chamando atenção para o mais básico da vida, que me parece, fica esquecido! Conheço muitos espíritos engajados que sequer cuidam de si próprios, completos decadentes... não me identifico! Não tenho representante! Nem candidato à... ! Desprezo! Ogerizo! Trinco os dentes e te digo: - Cai fora! Você não me faz companhia!

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